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O Mascate da Ribite!

Jorge Ary Ferreira.  6ta6o

Nascido no ano de 1955, na Comunidade Santa Clara, região do Lago Grande, primeiro dos 11 filhos do casal Sr. Antônio Albuquerque e D. Maria Sena Albuquerque, onde viveu até seus 9 anos de idade, quando foi trazido, por sua mãe, para morar com sua avó materna, D. Rosalina, para estudar na cidade de Óbidos, - como todas as famílias daquela época, que eram estabelecidas nas comunidades rurais faziam, procuravam as cidades quando os filhos começavam a crescer -, e, com isso, a necessidade de instrução era o principal motivo para deixar as comunidades e se mudarem para as cidades em busca de estudo para seus filhos.

Chegando em Óbidos, a casa de sua avó ficava na rua Deputado Raimundo Chaves, a famosa rua do Bacuri, antes do cemitério, em um terreno que fazia extrema com o quintal da dona Laurentina, senhora negra muito conhecida na cidade de Óbidos. De um coração muito bom, com quem o recém-chegado estabeleceu uma amizade e recebia os carinhos daquela vizinha, que vivia sozinha, e lhe causou a primeira experiência ruim neste mundo, justo quando percebeu o quanto sofria aquela senhora, com ataques diários de populares por onde quer que asse, uma vez que era acusada de ser mandingueira, acusada de trabalhar com magia negra, com bruxarias...

Diziam que carregava uma trouxa de pimenta embaixo de seu cabelo! Acusações essas, que eram lançadas em rosto e que ele, que convivia diariamente com ela, sabia que se tratava de inverdades, na realidade a própria população sabia que não era verdade, porém, a crueldade do racismo, da xenofobia, naquele período, ainda estava muito viva em nossa sociedade, e essa maldade era cometida sempre e sem qualquer tipo de defesa por parte da pessoa atacada. Era chamada pela alcunha de "Ribite". E diariamente a cidade assistia à covardia que se fazia com aquela senhora sem que ninguém a defendesse, infelizmente.

E quanto mais o tempo ava, mais a amizade entre aquele garoto franzino e estudioso, crescia, ando o garoto a ajudá-la, sempre deixando para ela uma piracatinga, um pacu, para ajudar na sua refeição e também fazendo pequenas tarefas, compras. E com o tempo, ou a ser seu vendedor, uma vez que supria suas necessidades financeiras com a venda de produtos cultivados no seu quintal, como bananas, cheiro-verde, algumas guloseimas, arroz doce, pirulitos... que ela produzia e o garoto vendia, e ao mesmo tempo era revoltado, por assistir à grosseria com que se tratava aquela pobre senhora, injustiçada sem motivo e sem o direito de defesa, sendo ele única testemunha viva da doçura de pessoa que era, e revoltado por não poder fazer nada com os ataques injustos, sem motivos e que faziam brotar a fúria em sua amiga, que reagia aos ataques, lançando pragas e xingando seus ofensores com palavras de baixo calão, profecias de desgraça na vida dos que a ofendiam mandando seus desafetos para aquele famoso lugar...

Na escola, sempre se destacava com boas notas e bom comportamento, fazendo parte da geração de Pedro Brasil, Miguel Chaves, Stones Machado, os Xapuris..., aquela que ficou conhecida na época, no garboso Colégio São Francisco, como sendo a turma predileta do "Frei Edgar".

Aos 19 anos partiu para Manaus em busca de novos horizontes. Em sua despedida, sua amiga lhe profetizou que seria uma pessoa muito feliz, que nunca deixasse de estudar, e que Deus sempre o acompanhasse.

Aos 21 anos, com dificuldades em Manaus, mudou-se para Belém, onde morou com sua tia materna, D. Feliz. Sem poder contar com a ajuda da família, uma vez que seu pai havia falecido, e sua mãe cuidava de seus 10 irmãos, desempenhava as mais diversas tarefas para suprir suas necessidades financeiras, dava aula particular a seus colegas; como bom dançarino criado no Salão Paroquial, dançava com as coroas na Boate Xodó, ganhando aquela famosa gorjeta. Assim conseguiu se formar em Engenharia Elétrica. Mais tarde formou-se em Física e trabalhou alguns anos na Philips do Brasil, sempre se destacando e cumprindo suas metas dentro da empresa. Com ousadia e sem perda de tempo, montou sua própria empresa, "Artluz", que em pouco tempo tornou-se a melhor empresa do ramo de materiais elétricos do Norte do Brasil! Casou-se com D. Maria Ivaneide Lima Albuquerque, com quem teve dois filhos, Renato e Beatriz Lima Albuquerque.

Hoje, fico imaginando o quanto D. Laurentina é feliz, olhando, de outro plano, o sucesso de seu mascate mirim... Sendo ela uma pessoa que ou a vida lançando pragas e xingamentos a seus agressores covardes, não se tem notícia de nada de ruim que tenha acontecido. Porém, sua profecia de felicidade e seu pedido a Deus, que iluminasse aquele rapaz, esses pedidos sim, foram atendidos.

Texto dedicado ao dileto amigo Magno Sena!

Óbidos 29/05/25

Jorge Ary Ferreira

 

Comentários   733u5o

0 #3 Raimundo Ubiraci Sarrazin da S 01-06-2025 17:57
Conheci a Dona Laurentina, não merecia o que faziam com ela. Outros tempos.
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0 #2 Raimundo Ubiraci Sarrazin da S 01-06-2025 15:34
Fiz parte dessa turma do Frei Edgar.Sou o UBIRACI, Saudades
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0 #1 Eládio Canto 31-05-2025 16:14
Grande amigo Magno, homem bom e do bem!
Construí uma bela Família.
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